Sem barreira sanitária, aldeia que fica a 15 km de roçado de índios isolados registra primeiro caso de Covid-19
Passados quatro meses desde que os primeiros indígenas foram infectados na Amazônia, governo não apresentou um plano objetivo que privilegiasse a região de povos não contatados

RIO – Apontado como uma das áreas mais vulneráveis à contaminação de índios isolados pela Covid-19 , o alto curso do rio Itaquai registrou o primeiro caso do novo coronavírus de um indígena kanamari, morador da aldeia Hobana, distante a apenas 15 quilômetros de roçados de um grupo que ainda não foi contatado.
Por não terem memória imunológica para resistir às mais simples gripes, esses povos originários correm risco de serem dizimados caso o coronavírus se espalhe por suas aldeias.
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A junção dos rios Itaquaí e Juruá foi apontada por especialistas durante reunião da Sala de Situação, criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como uma das mais preocupantes para o contágio desses povos (isolados) uma vez que tem maior movimentação nos caminhos (“varador”) que ligam as aldeias Kanamari a esses dois rios. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apresentou pedido ao governo para que se concentrasse nesses pontos e reformulasse a proposta de criação de barreiras sanitárias, conforme revelou O GLOBO nesta quarta-feira.
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Das preocupações apresentadas pela Apib e especialistas, a criação de uma barreira sanitária justemante na aldeia Hobana era a primeira da lista enviada ao governo, que até hoje, passados quatro meses desde os primeiros casos de coronavírus entre índios da Amazônia, não apresentou um plano objetivo que privilegiasse a região de povos isolados.
“À luz do que precede, propomos uma Barreira Sanitária nas proximidades da aldeia Hobana (Kanamari), no alto curso do Itaquaí, a qual possa dialogar com os Kanamari dos riscos que existem sobre essa movimentação, monitorar o fluxo nesse varador e construir espaços de quarentena para que possam ser usados pelos indígenas em trânsito.
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Governo foi avisado

Diante da tragédia que se anuncia, a Apib enviou um comunicado de “situação de emergência” no alto curso do rio Itaquaí, no Vale do Javari ao coronel Saturnino. O documento lembra ao GSI que o governo havia sido avisado no último dia 23 de julho sobre a necessidade de se apresentar um plano urgente para as macro-regiões do Vale do Javari e do estado do Acre em razão da exposição dos povos isolados à Covid-19.
Os especialistas não só criticaram, mas também apresentaram o que deveria ser um procedimento básico para atuar nas imediações da aldeia onde o kanamari foi infectado.
“Varador entre o alto rio Itaquaí e rio Juruá – Ponto de Apoio na aldeia Hobana, ou nas proximidades (com radiofonia), para monitoramento e diálogo com os Kanamari para evitarem de utilizar esse caminho. Instaurar protocolos sanitários para quem entra e sai no varador e ter acampamento próximo que possibilite realizar quarentena. Utilizar profissionais da saúde e servidores e indígenas contratados pela Funai.”